Por: *Rodrigo Cunha | 13 de novembro de 2018
Desde março de 2015, quando assumi a área de inovação da Neurotech, tenho rodado o Brasil falando um pouco da minha experiência, que se confunde com a experiência da empresa — afinal de contas, são 18 anos de estrada sobre inteligência artificial aplicada aos negócios, machine learning, inovação, produto, gestão, investimento. São momentos de euforia porque tudo está dando muito certo e momentos de angústia porque tudo parece dar errado.
No mês passado, participei de mais um evento com o pessoal do Citi da UFPE, falando um pouco da minha experiência em todos esses temas de empreendedorismo e da jornada da Neurotech. O objetivo do evento, além do give back (retornar à sociedade o suporte que tivemos), é estar próximo dessa galera jovem cheia de sonhos e desejo de construir coisas legais.
Essa palestra foi diferente. Primeiro porque voltar no Centro de Informática e ao CCEN (Centro de Ciências Exatas de da Natureza), onde tudo começou, me fez voltar no tempo. Segundo, porque quando falei na palestra sobre os meus sonhos, caiu a ficha que, na naquela mesma Universidade Federal de Pernambuco, em 1998, tinha um estudante com um sonho grande pela frente: fazer algo realmente transformador com IA e estatística! Google e Amazon eram promessas e Microsoft uma realidade. Facebook… o que era isso? O lance era o início do Orkut! Melhor parar aqui para você não me achar muito velho!
Quando lembrei dessa época, logo pensei: como é importante sonhar. Em cada etapa da vida, da carreira, como é importante chegar em um objetivo, definir um novo target e dar o máximo para chegar lá. Comemorar as conquistas e aprender nas derrotas (que são muitas).
A ponta do Iceberg
Depois do evento no Citi, parei e pensei um pouco sobre o que os amigos e familiares pensam de tudo isso, da Neurotech e dessa “carreira” de empreendedor no Brasil. A família e os amigos mais próximos veem o sofrimento, as viagens, o stress, a alegria… quase uma vida bipolar kkkkkkk.
Já os amigos mais distantes só veem as notícias na imprensa e ficam com aquela sensação de “Que massa! Como é legal estar lá!”, “Como foi rápido!” Em uma das entrevistas de Zuckerberg ele fala como é dolorido empreender, mas, ao mesmo tempo, como é gratificante. Ele lamenta o fato de as pessoas acharem que ele chegou lá por um passe de mágica e como as coisas devem ter sido fáceis. Dois livros que falam bem dos bastidores do empreendedor e eu gosto muito são o Sonho Grande, do Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, e The Hard Things about Hard Things, do Ben Horowitz.
Eles falam dos bastidores do empreendedorismo, sobre como fechar um grande negócio enquanto você está em viagem com a família, como resolver deixar de sair de férias com a família com tudo comprado para resolver conflitos importantes da empresa. Parece que não desligamos. É 24 horas por dia nos 7 dias da semana. Mesmo quando não há problemas, os pensamentos sempre vão na direção de como podemos fazer melhor. Não é fácil mesmo empreender no Brasil! É uma coisa de louco. Por outro lado, eu fico vendo como foi e ainda é gratificante fazer o que eu faço. Então, a reflexão é como um ser humano pode gostar de trabalhar três turnos, viajar para cima e para baixo, perder noites de sono remoendo os problemas, abdicar de alguns momentos importantes com a família e, mesmo assim, adorar tudo isso?
A resposta: eu encontrei e vivo meu propósito há 20 anos. E você? Já tem o seu?
Procure as áreas complementares
Eu sou formado em Estatística e fiz mestrado e doutorado em inteligência artificial e machine learning, áreas técnicas. Quando eu comecei a envolver com empreendedorismo, inovação e, mais recentemente, produtos digitais, percebi como elas se encaixavam com o que eu já queria fazer, mesmo não sendo áreas técnicas. Aí é quando aquele mosquito que lhe morde e você fica viciado, quer fazer tudo que une as áreas que você adora.
Hoje, são três grandes áreas na minha vida: machine learning, startup/empreendedorismo e criação de produtos digitais. É isso que me deixa realizado profissionalmente. A junção dessas três áreas faz com que eu entenda melhor quem eu sou, o que tenho prazer em fazer e (tão importante quanto) o que não me dá prazer ao fazer. Isso me ajuda a selecionar o tipo de trabalho ou atividades prioritárias.
Já indiquei alguns livros sobre empreendedorismo. Em machine learning / IA, acho que o Han e Kamber é a bíblia e devia ser estudado por todos. Já em produtos digitais tenho muito livro para indicar, mas um curso super bacana e em português que recomendo muito é da galera da PM3. Vale acompanhar o que Joaquim Torres fala sobre produtos digitais.
É claro que parece mais fácil porque esses três elementos da minha fórmula estão na moda e têm tendência de crescimento. Porém, temos que lembrar que estou trabalhando nisso há 20 anos.
Propósito na prática: analise as tendências
Para colocar seu propósito em prática, é preciso uma visão minimamente analítica. Qual a tendência das áreas em que atuo no médio e no longo prazo? Essas áreas irão existir no futuro? Para explicar a importância dessa reflexão, é só lembrar que muitas atividades poderão ser profundamente modificadas ou até mesmo interrompidas daqui a algum tempo. De todo jeito, estar atento a isso vai mostrar o quanto é preciso se reinventar, é preciso inovar.
Pensar sobre o impacto da tecnologia nos leva a pensar em outro ponto: como a inteligência artificial vai impactar as áreas em que baseio meu propósito? Quais as possibilidades que se abrem? Por exemplo, vamos pensar em um advogado que encontrou seu propósito na área e que seu campo de atuação está cada vez mais sendo impactado como tecnologias como machine learning. Os que tiverem a capacidade e paixão por unir advocacia com tecnologia com certeza serão profissionais diferenciados.
Então, minha sugestão é que, na hora de escolher as áreas que vão ser a base da materialização do seu propósito, considere inteligência artificial como uma delas. Dados e informação são o “petróleo” deste século e IA é o engenho que transforma esse petróleo em combustível.
Quando encontrar, você saberá imediatamente. E, mais uma coisa: jovens, não mirem no dinheiro, no emprego estável, mirem nas coisas que te motivam e tentem explorar e experimentar áreas novas! Quanto mais experimentar, mais fácil e rápido será o encontro com o seu propósito. Desejo um excelente encontro 🙂