Doenças diarreicas ainda hoje estão entre as dez principais causas de morte no mundo, com mais de 430 mil óbitos ao ano. E, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 88% desse total é causado pelo saneamento inadequado. É um percentual que coloca o direito à água tratada, assegurado pela Constituição aqui no Brasil, como um dos principais desafios para garantir o acesso à saúde. Na busca por reduzir essa disparidade, a tecnologia se mostra importante aliada. Entre tantas funcionalidades, é uma ferramenta que também ajuda a amenizar o déficit desses serviços, possibilitando a promoção de ações mais efetivas de proteção à vida.
É o que demonstra mapeamento da Neurotech, realizado mediante o cruzamento de dados públicos, que possibilitou visualizar o perfil das pessoas com doenças relacionadas à falta de saneamento; correlacionar a taxa de incidência dessas doenças com a taxa de saneamento por cidade; e planejar intervenções que geram redução das doenças e, consequentemente, uma economia para a sociedade.
IA é ferramenta para Saúde Pública
Trata-se de uma análise que pode ajudar na construção de políticas públicas diante de um cenário que não é nada bom, apesar do novo Marco Legal do Saneamento, que prevê a universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil, prevista pelo Governo Federal para ocorrer até 2033. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostram que apenas 83,6% dos brasileiros são abastecidos por rede de água e 53,2% têm o esgoto coletado, mas somente 46% é tratado. Em números absolutos, são 34 milhões de pessoas que vivem sem água e quase 100 milhões sem esgoto em todo o país.
-“São casos que geram impacto no custo Brasil e no preço de planos de saúde, que precisam se adequar a uma realidade em que milhões de reais são gastos anualmente em internações e medicamentos para o tratamento dessa população”, diz Cláudio Alves Monteiro, cientistas de Dados da Neurotech, responsável levantamento.
Ações baseadas em evidências
Como em qualquer outra área, as ações de prevenção são mais eficientes quando são baseadas em evidências. Na Saúde não é diferente. Ao relacionar a distribuição das doenças por falta de saneamento a partir do Datasus e da taxa de saneamento do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) é possível traçar um perfil das pessoas que podem ser alvo de um programa de saúde que busque melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
A metodologia envolve os dados públicos e as soluções da plataforma Neurolake para processar informações e gerar variáveis. Os resultados mostraram que a população de jovens de 18 a 22 anos são as mais acometidas e também que as mulheres tendem a ser um pouco mais atingidas que os homens. Vale destacar uma limitação da análise, que exclui a população abaixo de 18 anos porque a Neurotech não trabalha com informações de menores de idade.
Internações por Doenças Relacionadas à Falta de Saneamento no Brasil, por Idade (2014-2020)
Mas, com base nas informações, uma instituição pode, por exemplo, direcionar campanhas de conscientização sobre a higiene numa linguagem adequada para a faixa etária jovem. Também é possível planejar um formato de campanha generalista em relação ao sexo e outro formato focado em mulheres, tendo em vista as especificidades relacionadas ao sexo feminino, já que se observa que essas internações são ligeiramente mais comuns no público feminino.
Gestão mais eficiente
Leia também: Modelo preditivo aumenta a eficiência na gestão da saúde: https://www.neurotech.com.br/modelo-preditivo-aumenta-a-eficiencia-na-gestao-da-saude
Análises como essas permitem o direcionamento de medidas preventivas por parte de gestores públicos e privados para a população mais atingida e que gera mais ônus, produzindo uma melhora na saúde da população como um todo. Além disso, garantem que as pessoas passem menos tempo internadas e mais tempo trabalhando e movimentando a economia. A promoção de saneamento de qualidade também gera mais dignidade para as comunidades e diminui níveis de estresse e ansiedade.
Segundo o Instituto Trata Brasil, a universalização do sistema de saneamento custaria quase R$ 400 bilhões nos próximos 20 anos, mas geraria R$ 1,5 trilhões de benefícios para economia com a redução dos custos com a saúde, aumento da produtividade do trabalho, renda da valorização imobiliária, do turismo e a gerada pelo investimento e aumento de operação.